quarta-feira, 15 de abril de 2015

Resenha do texto RAMO RÊ SE RAI DÁ CERTO: o enfraquecimento da fricativa /v/ no falar de Fortaleza, de Ana Germana Pontes Rodrigues

            Atualmente, estudos têm se voltado para a compreensão das diversidades fonológicas existentes no Português falado do Brasil. Muitos deles se dedicam a entender o processo de variação que ocorre em um fonema específico. Ana Germana Pontes Rodrigues, em sua tese defendida com a finalidade de obtenção do título de mestre pela Universidade Estadual do Ceará, baseia-se na teoria da Sociolinguística Variacionista para propor um estudo mais aprofundado do fonema /v/ na fala dos fortalezenses.
            Rodrigues estuda o processo de enfraquecimento do fonema supracitado que, por influência de vários fatores linguísticos e extralinguísticos, acaba por se transformar, em grande parte da população do Ceará, no fonema fricativo glotal aspirado /h/ ou, em situações de vozeamento, /ḩ/. Thaïs Cristófaro propõe que um fonema desvozeado, quando sucedido de outro vozeado, adquire traços de vozeamento. Nesse sentido, percebe-se a possível distância entre os arcabouços teóricos utilizados pela autora e aquele em que estamos inseridos, visto que conhecemos apenas a linha teórica exposta em sala de aula na disciplina de Fonética e Fonologia ministrada pelo professor Eliabe Procópio da Universidade Federal de Roraima.
            As teorias usadas como campo teórico procuram contextualizar historicamente o enfraquecimento do fonema /v/ mundial, nacional, e regionalmente. A estrutura do trabalho consiste na delimitação do objeto de pesquisa limitando-se à ocorrência da reificação no estado do Ceará, principalmente na cidade de fortaleza.
            A autora relata a importância de sua tese para o futuro do ensino de língua materna ou estrangeira, já que trabalha com o conceito de competência comunicativa de Hymes (1974), que compreende a ideia de que o falante utiliza a língua como um caleidoscópio, ou seja, a língua muda de forma de acordo com a situação de uso.
            Em alguns momentos do texto, o leitor pode se sentir confuso. Podem-se encontrar exemplos que confirmam a não-valorização à assimilação de traços de fonemas vizinhos. Um dos teóricos de que a autora se utiliza é Aguiar, que reporta as ocorrências da alternância entre /h/ e /j/, /s/ e /z/. Tendo em vista os exemplos na página 27 do texto - (hente/gente),  s(ur-dia/os dias,  derde/desde) e  z(fahê/fazer) - percebe-se uma incongruência: se o G alfabético de "gente" é representado por "J", o "S" em "oS dias" deveria ser representado por Z, visto que antecede fonema vozeado. Isso promove a existência de apenas duas ocorrências de anternância fonêmica, entre /h/ e /j/ e entre /h/ e /z/. Chegamos a essa conclusão a partir dos estudos referentes à nossa disciplina, sabendo-se que não tivemos acesso ao texto de Aguiar (1937), portanto não foi possível determinar se os exemplos são da autora da dissertação ou do teórico em questão.
            No início do trabalho, são definidas algumas hipóteses que nortearam a sua pesquisa bibliográfica: a  fricativa  /v/  apresenta  duas  formas  de  realização  no  falar  fortalezense: a fricativa /v/ apresenta das formas de realização no falar fortalezense: aspiração e manutenção (realização plena);  os  fatores  que  mais  privilegiam  a  aspiração  dessas  fricativas  são: extralinguísticos  (escolaridade,  faixa  etária,  monitoramento  estilístico)  e  linguísticos (contextos fonológicos antecedente e subsequente, frequência de uso e  statusmorfológico do segmento);  os contextos fonológicos circundados pela vogal /a/ atuarão de forma positiva sobre o enfraquecimento de /v/; quanto maior a frequência de uso do segmento, maior será a sua probabilidade de ocorrer na forma aspirada; os morfemas gramaticais, em especial os que contêm o pretérito imperfeito do indicativo  com  a  forma  /ava/,  favorecerão  a  variante  reificada  mais  do  que  os  morfemas lexicais; a realização variável de /v/ no português falado  em Fortaleza é um fenômeno que reflete variação estável; o fator escolaridade exerce influência na aspiração das fricativas, pois, quanto menor o grau de escolaridade, maior o enfraquecimento de /v/; a faixa etária dos falantes exerce influência na realização variável do fenômeno, pois quanto maior a faixa etária, menor será a manutenção (realização plena); a  variável  gênero/sexo  não  exerce  influência  sobre  o  fenômeno,  pois  ocorre enfraquecimento de /v/ em ambos os gêneros; quanto  menor  o  monitoramento  estilístico,  maior  será  a  aspiração  e  quanto maior o monitoramento estilístico maior será a manutenção desses fonemas.
            Durante a leitura do texto, foi perceptível que autora deixa muito vaga a noção da nomenclatura referente aos fonemas. Percebemos que ela fala sobre o ponto de articulação de uma consoante, mas não  diz qual é. Toma-se aqui como pressuposição a de que a autora escrevera sua tese direcionada a pessoas que já possuem uma carga de conhecimento mais elevada.
            É importante para a compreensão do trabalho saber que uma das hipóteses criadas não foi confirmada: a tonicidade e a dimensão do vocábulo são, sim, relevantes para o enfraquecimento de /v/.
            A  tonicidade  foi  escolhida para análise nos seguintes contextos:  /v/  nos  dois contextos, /v/ em início de palavra, termos extremamente usuais com /v/ em início e verbos com  /v/  em  início.  Portanto,  verificou-se  que  essa  variável  só  teve importância  para  o contexto intervocálico quando este foi analisado com o contexto de /v/ em início de palavra; apenas nessa situação, é que as sílabas postônicas foram mais relevantes do que as tônicas para o enfraquecimento de /v/.

 Referências Bibliográficas
 RODRIGUES, Ana Germana Pontes. RAMO RÊ SE RAI DÁ CERTO: o enfraquecimento da fricativa /v/ no falar de Fortaleza / Ana Germana Pontes Rodrigues — Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de  Humanidades,  Programa  de  Pós-Graduação  em  Linguística Aplicada, Fortaleza, 2013.

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