domingo, 19 de abril de 2015

O diálogo entre a psicologia do desenvolvimento cognitivo e a educação matemática

Spinillo e Lautert (2006) entendem que deve haver interdisciplinaridade entre a psicologia do desenvolvimento cognitivo e a educação matemática. As autoras procuram contextualizar a educação matemática nos dias atuais relevando uma abordagem que já se tornou obsoleta. A união entre psicologia e educação, por algum tempo, esteve focada em questões relacionadas a problemas psicológicos (afetivos e intelectuais) do aluno. Por esse motivo, a disciplina de psicologia dominava o espaço educacional. Atualmente se propõe que as disciplinas tenham papel semelhante e deem suporte às dificuldades relativas a sua própria area de conhecimento.
       Do ponto de vista teórico, a relação entre a psicologia do desenvolvimento cognitivo e a educação matemática tem como teoria básica a Teoria dos Campos Conceituais e como campo de estudo a Psicologia da Educação Matemática. Essa visão teórica, vista segundo a proposta de Vergnaud (1997), retoma a noção de esquema de Piaget e a reformula no âmbito de uma teoria de caráter universal.
       A Psicologia da Matemática hoje é delimitada enquanto um campo de estudo que tem como finalidade a análise da atividade matemática. Essa atividade abarca três contextos culturais de construção de significado: a matemática escolar (contexto de sala de aula); a extraescolar (práticas necessárias a eventos cotidianos); e a dos matemáticos (conhecimentos que partem de profissionais teóricos especializados).
       A autora utiliza-se da teoria de Giardinetto para relevar a importância da matemática extraescolar. Esta pode ser inserida, com base na psicologia do desenvolvimento cognitivo, nos ensinos intraescolares.
       Em síntese, as autoras entendem que se originará uma área de interseção conhecida como a psicologia da educação matemática da união entre a educação, a psicologia e a própria matemática.
       Além do conhecimento teórico, as autoras propõe a maior valorização do conhecimento empírico proporcionado pelas pesquisas de campo. Para elas, é importante conhecer questões relacionadas à subjetividade inerente ao aluno para que se entendam muitos problemas de ensino-aprendizagem. Acresce ainda a importância dada à avaliação das metodologias e abordagens no contexto escolar.
       Levando em consideração a subjetividade e as metodologias, as ciências aplicadas em matemática perceberam, então, que era necessário investigar dois conceitos considerados complexos na visão dos alunos: divisão e fração.
       Nos estudos sobre a divisão, encarou-se o problema de que os alunos só pensam nesse conceito como “a capacidade de partilhar”, pois isso já é uma imposição na escola. Sobre o conceito de fração, notou-se o problema que é o pensamento dos alunos quando se fala em “parte do inteiro”. O estudante vê a fração como uma porção que resultou da divisão de um todo.
       Uma conclusão importante do trabalho foi a de que as crianças dispõem de um conjunto de informações predeterminadas que a levam a resolver situações-problema nunca antes vistas. Isso acontece com o conhecimento da matemática. O aluno pode nunca ter sido ensinado a fazer uma conta de divisão, mas entende que pode partilhar uma barra de chocolate igualmente entre seus amigos. Porém, isso não acontece em todas as situações.
       Outro fato importante explicitado pela pesquisa é que se fazem necessários pontos de referência, denominados “âncoras” – as compreensões prévias que dão vazão aos novos conhecimentos – para que seja facilitada a compreensão do aluno.
       O texto em questão afirma ainda que é necessário para uma boa aprendizagem que se faça uma ponte entre várias vertentes teóricas que compreendem um mesmo conhecimento específico, assim como entre as várias possibilidades de ocorrência extraescolar onde esse conhecimento poderá ocorrer. Assim, o aluno entenderá a partir de situações reais a matemática que lhe é ensinada, tornando possível a reflexão acerca do tema e a contextualização deste no mundo.
       Como finalização, as autoras refletem acerca da importância da aprendizagem de matemática no desenvolvimento cognitivo. Para elas, o conhecimento matemático auxilia na estruturação do pensamento, na agilização do raciocínio lógico-dedutivo, na resolução de problemas de diferentes maneiras e amplia o poder de alcance dos esquemas.
       

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