Atualmente, estudos têm se voltado para a compreensão
das diversidades fonológicas existentes no Português falado do Brasil. Muitos
deles se dedicam a entender o processo de variação que ocorre em um fonema
específico. Ana Germana Pontes Rodrigues, em sua tese defendida com a
finalidade de obtenção do título de mestre pela Universidade Estadual do Ceará,
baseia-se na teoria da Sociolinguística Variacionista para propor um estudo
mais aprofundado do fonema /v/ na fala dos fortalezenses.
Rodrigues estuda o processo de
enfraquecimento do fonema supracitado que, por influência de vários fatores
linguísticos e extralinguísticos, acaba por se transformar, em grande parte da
população do Ceará, no fonema fricativo glotal aspirado /h/ ou, em situações de
vozeamento, /ḩ/. Thaïs Cristófaro propõe que um fonema desvozeado, quando
sucedido de outro vozeado, adquire traços de vozeamento. Nesse sentido,
percebe-se a possível distância entre os arcabouços teóricos utilizados pela
autora e aquele em que estamos inseridos, visto que conhecemos apenas a linha
teórica exposta em sala de aula na disciplina de Fonética e Fonologia
ministrada pelo professor Eliabe Procópio da Universidade Federal de Roraima.
As teorias usadas como campo teórico
procuram contextualizar historicamente o enfraquecimento do fonema /v/ mundial,
nacional, e regionalmente. A estrutura do trabalho consiste na delimitação do
objeto de pesquisa limitando-se à ocorrência da reificação no estado do Ceará,
principalmente na cidade de fortaleza.
A autora relata a importância de sua
tese para o futuro do ensino de língua materna ou estrangeira, já que trabalha
com o conceito de competência comunicativa de Hymes (1974), que compreende a
ideia de que o falante utiliza a língua como um caleidoscópio, ou seja, a
língua muda de forma de acordo com a situação de uso.
Em alguns momentos do texto, o
leitor pode se sentir confuso. Podem-se encontrar exemplos que confirmam a
não-valorização à assimilação de traços de fonemas vizinhos. Um dos teóricos de
que a autora se utiliza é Aguiar, que reporta as ocorrências da alternância
entre /h/ e /j/, /s/ e /z/. Tendo em vista os exemplos na página 27 do texto -
(hente/gente), s(ur-dia/os dias, derde/desde) e z(fahê/fazer) - percebe-se uma incongruência:
se o G alfabético de "gente" é representado por "J", o
"S" em "oS dias" deveria ser representado por Z, visto que
antecede fonema vozeado. Isso promove a existência de apenas duas ocorrências
de anternância fonêmica, entre /h/ e /j/ e entre /h/ e /z/. Chegamos a essa
conclusão a partir dos estudos referentes à nossa disciplina, sabendo-se que
não tivemos acesso ao texto de Aguiar (1937), portanto não foi possível
determinar se os exemplos são da autora da dissertação ou do teórico em
questão.
No início do trabalho, são definidas
algumas hipóteses que nortearam a sua pesquisa bibliográfica: a fricativa
/v/ apresenta duas
formas de realização
no falar fortalezense: a fricativa /v/ apresenta das
formas de realização no falar fortalezense: aspiração e manutenção (realização
plena); os fatores
que mais privilegiam
a aspiração dessas
fricativas são:
extralinguísticos (escolaridade, faixa
etária, monitoramento estilístico)
e linguísticos (contextos
fonológicos antecedente e subsequente, frequência de uso e statusmorfológico do segmento); os contextos fonológicos circundados pela
vogal /a/ atuarão de forma positiva sobre o enfraquecimento de /v/; quanto
maior a frequência de uso do segmento, maior será a sua probabilidade de
ocorrer na forma aspirada; os morfemas gramaticais, em especial os que contêm o
pretérito imperfeito do indicativo
com a forma
/ava/, favorecerão a
variante reificada mais
do que os
morfemas lexicais; a realização variável de /v/ no português falado em Fortaleza é um fenômeno que reflete
variação estável; o fator escolaridade exerce influência na aspiração das
fricativas, pois, quanto menor o grau de escolaridade, maior o enfraquecimento
de /v/; a faixa etária dos falantes exerce influência na realização variável do
fenômeno, pois quanto maior a faixa etária, menor será a manutenção (realização
plena); a variável gênero/sexo
não exerce influência
sobre o fenômeno,
pois ocorre enfraquecimento de
/v/ em ambos os gêneros; quanto
menor o monitoramento
estilístico, maior será
a aspiração e
quanto maior o monitoramento estilístico maior será a manutenção desses
fonemas.
Durante a leitura do texto, foi
perceptível que autora deixa muito vaga a noção da nomenclatura referente aos
fonemas. Percebemos que ela fala sobre o ponto de articulação de uma consoante,
mas não diz qual é. Toma-se aqui como
pressuposição a de que a autora escrevera sua tese direcionada a pessoas que já
possuem uma carga de conhecimento mais elevada.
É importante para a compreensão do
trabalho saber que uma das hipóteses criadas não foi confirmada: a tonicidade e
a dimensão do vocábulo são, sim, relevantes para o enfraquecimento de /v/.
A
tonicidade foi escolhida para análise nos seguintes
contextos: /v/ nos
dois contextos, /v/ em início de palavra, termos extremamente usuais com
/v/ em início e verbos com /v/ em
início. Portanto, verificou-se
que essa variável
só teve importância para o
contexto intervocálico quando este foi analisado com o contexto de /v/ em
início de palavra; apenas nessa situação, é que as sílabas postônicas foram
mais relevantes do que as tônicas para o enfraquecimento de /v/.
Referências
Bibliográficas
RODRIGUES, Ana Germana Pontes. RAMO RÊ SE RAI DÁ CERTO: o enfraquecimento da
fricativa /v/ no falar de Fortaleza / Ana Germana Pontes Rodrigues — Dissertação
(mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Centro de Humanidades,
Programa de Pós-Graduação
em Linguística Aplicada,
Fortaleza, 2013.